sábado, 24 de outubro de 2009

Adaptação do Portfolio Permanente ao Brasil

Como vimos o modelo de um portfolio permanente se baseia em manter um portfolio amplamente diversificado em diferentes classes de ativos, que possa ir bem em qualquer cenário macro-econômico, tanto em um cenário de inflação, recessão, depressão ou prosperidade. O portfolio não tenta fazer nenhuma predição sobre o futuro mas apenas manter de uma forma balanceada as 4 classes de ativos.

Relembranado o portfolio permanente seria composto por:

- 25% ações SP500; que iriam bem durante uma fase de prosperidade
- 25% Ouro; que iria bem em um cenário de hiperinflação
- 25% Titulos do governo de longo prazo; renderiam bem em um cenário de depressão
- 25% Fundo Money Market; para épocas de recessão, quando os juros sobem

Fazendo uma adaptação básica para mercado brasileiro teríamos:

- 25% ações: fundo indexado como PIBB11 ou BOVA11
- 25% Ouro
- 25% Titulo prefixados de longo prazo: NTN-F
- 25% Fundo DI ou LFTs

Ao analisarmos o portfolio permanente tupiniquim com ativos que estamos mais acostumados a analisar, vemos que o portfolio permanente é muito concentrado em renda fixa. Uma outra diferença em relação ao mercado americano é que a nossa renda fixa ainda tem uma taxa de juros bem alta em comparação com os mercados globais.

Por outro lado os nossos titulos prefixados de longo prazo não são de tão longo prazo assim; a NTN-F mais longa é a de 2017, com taxa hoje de 13,23% e pagamento de juros semestrais. Na verdade os titulos de mais longo prazo no Brasil são as NTN-Bs, que são titulos mistos, que tem um componente prefixado que atualmente está em torno de 6,6% e um componente pos-fixado que segue o IPCA. E por que é importante no modelo do portfolio permanente que os titulos sejam de longo prazo? Por que em um cenário de depressão o governo baixa rapidamente as taxas de juros e os titulos prefixados se valorizam fortemente, e quanto mais longo o titulo mais ele vai se valorizar. Por exemplo, com a queda nos ultimos meses da taxa selic as NTN-F de 01/01/2017 tiveram uma valorização do seu valor de face de 41,64% nos ultimos 12 meses. Já as NTN-Bs, mesmo tendo uma taxa de juros pre-fixada bem menor em relação as NTN-Fs, tiveram uma valorização bem proxima de 38,72%, devido a serem titulos de mais longo prazo; e isto em um período em que o IPCA ficou muito baixo. Ou seja esta valorização toda veio do componente pre-fixado. Então no Brasil temos uma opção de ter um titulo como a NTN-B que tem um comportamento muito interessante, de se comportar bem em um cenário de queda forte dos juros, como o ocorre em uma depressão e de se comportar bem em um cenário inflacionário. Então poderíamos ao inves de usar apenas as NTN-Fs utilizar no seu lugar as NTN-Bs ou fazer um mix:

Então o portfolio ficaria assim:

- 25% Ações (PIBB11 ou BOVA11);
- 25% Ouro
- 25% Titulos de longo prazo: 12,5% NTN-F e 12,5% NTN-B
- 25% Fundo DI ou LFT

Acrescentamos as NTN-Bs por que elas tem um componente pre-fixado de longuissimo prazo que se valoriza muito em um cenário de queda forte dos juros, mas ela tambem tem um componente pos-fixado indexado ao IPCA que nos dá uma proteção contra inflação. Então talvez não precisemos manter 25% do portfolio no ouro (que é o melhor ativo para um cenário de hiperinflação), já que teremos NTN-Bs.

Como comentamos anteriormente a pricipal deficiencia do portfolio permanente ao meu ver é não alocar uma parte do portfolio para o investimento em imóveis, que é uma das mais importantes classes de ativos para a geração e manutenção da riqueza no longo-prazo. Então acho válido acrescentar o investimento em imoveis no portfolio, que poderia ser feito através de fundos imbiliários e diminuiríamos um pouco a alocação excessiva em renda fixa do portfolio permanente. Na realidade os FII vão ter um comportamento semelhante a NTN-B alem de captarem os ganhos provenientes do mercado imobiliário e terem um hedge natural contra a inflação. Devido a isto provavelmente os FII vão render bem em um cenário de queda ou manutenção das taxas de juros e vão ter um rendimento razoável em um cenário inflacionário. E não vão render bem em um cenário de recessão com aumento das taxas de juros.

Então uma possibilidade para o portfolio permanente acrescentando os FII e diminuindo a alocação em renda fixa, associando as NTN-Bs e diminuindo o ouro; mantendo ainda um percentual razoável em renda fixa, seria:

- 25% Ações (PIBB11 ou BOVA11): para epocas de prosperidade e queda na taxa de juros, com certa proteção contra inflação
- 15% Ouro: para periodos de hiperinflação
- 10% NTN-F: para peridos de depressão com queda da taxa de juros
- 10% NTN-B: para periodos de queda da taxa de juros e para periodos de inflação
- 25% DI ou LFT: para periodos de aumento da taxa de juros
- 15% FII: para periodos de prosperdidade ou queda nas taxas de juros e com certa proteção contra inflação

Outra possibilidade mais equilibrada e com um peso menor na renda fixa e um peso maior nos imoveis e nas ações seria:

- 30% Ações (PIBB11 ou BOVA11)
- 30% Renda Fixa: 10% DI ou LFT; 10% NTN-F; 10% NTN-B
- 15% Ouro
- 25% FII

As possibilidades são muitas mas a ideia principal é manter um portfolio o mais equilibrado possivel para que ele vá bem independentemente do cenário economico. Além de tudo a alocação precisa atender e estar em harmnonia com os objetivos individuais de cada um.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Portfolio Permanente - Retornos Historicos















Retornos historicos do Portfolio permanente conforme site do Harry Browne

1970 4,10%
1971 13,40%
1972 18,70%
1973 10,60%
1974 12,30%
1975 3,70%
1976 10,10%
1977 5,20%
1978 15%
1979 36,70%
1980 22,10%
1981 -6,20%
1982 23,30%
1983 4,30%
1984 1,10%
1985 20,10%
1986 21,70%
1987 5,30%
1988 3,60%
1989 14,80%
1990 -0,70%
1991 11,50%
1992 4%
1993 12,60%
1994 -2,40%
1995 16,60%
1996 5,20%
1997 6,70%
1998 7,40%
1999 4,70%
2000 2,70%
2001 -1%
2002 7,20%
2003 11,80%

Média: 9,59%
Desvio Padrão: 8,8%

É interessante que estes retornos não deixam nada a desejar quando confrontados com uma alocação agressiva de 100% em ações (SP500). Infelizmente no site só há dados até 2003. O Sr. Harry Browne faleceu em 2006.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Portfolio Permanente

A idéia de um portfolio permanente foi criada por Harry Browne e Terry Coxon; e a sua estratégia de alocação se baseia na análise dos ciclos econômicos. Os ciclos econômicos poderiam ser divididos em 4 categorias:

1. Prosperidade
2. Inflação
3. Deflação
4. Recessão

Durante qualquer momento a economia estará em algum destas fases ou na transição de uma fase para outra. A estratégia não tenta predizer quando estaremos em algumas destas fases, nem tenta adivinhar por quanto tempo estas fases durarão. Ao invés disto, o portfolio mantem para cada fase do ciclo econômico uma determinada classe de ativos que sabidamente responda bem a este ciclo econômico, independente de quando ele ocorra ou por quanto tempo dure.

Então para cada fase do ciclo econômico foi escolhida uma determinada classe de ativos. Este portfolio foi desenhado para o mercado americano e os ativos são consequentemente do mercado americano; posteriormente, após entender bem o modelo, vamos tentar fazer uma adaptação para o mercado brasileiro.

1. Prosperidade: Durante fases de prosperidade da economia os fundos indexados de ações capturam o retorno total dos mercados
2. Inflação: Durante um período inflacionário, o ouro prove uma forte proteção contra a desvalorização progressiva da moeda.
3. Deflação: Durante deflação, títulos prefixados de longo prazo sobem rapidamente de valor; além de também performarem bem durante fases de prosperidade
4. Recessão: Durante uma recessão nenhum ativo vai bem; então o Harry Browne escolheu como o melhor ativo nesta fase sendo Dinheiro, em um fundo de renda fixa de curto prazo ou poupança.

Assim o portfolio permanente no mercado americano ficaria assim:

- 25% Ações (Fundo indexado ao SP500)
- 25% Títulos prefixados de longo prazo (US Treasury 30 year bonds)
- 25% Ouro
- 25% Dinheiro (Treasury Money Market fund)

Estas classes de ativos estariam sempre no portfolio, de maneira balanceada, independente do que estivesse ocorrendo na economia. Esta estratégia é planejada para prover um crescimento do seu dinheiro de forma estável e segura, independente do que possa ocorrer no mercado, sem tentar predizer o futuro, pois o mesmo é imprevisível.

A principal deficiência do portfolio permanente, ao meu ver, é que ele não inclue o investimento em imóveis. Harry Browne acreditava que o investimento em imóveis tinha pouca liquidez, necessitava de grandes quantias e tinha um comportamento muito imprevisível. Contudo atualmente temos instrumentos como os fundos imobiliários que permitem que ao investidor ter acesso ao mercado imobiliário, com muito maior liquidez e podendo investir valores bem menores, além de poder diversificar facilmente entre vários imóveis. Então grande parte dos “problemas” relacionados a investir em imóveis estariam contemplados.

No próximo post vamos tentar adaptar o portfolio permanente ao mercado brasileiro.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

As 16 Regras de Ouro da Segurança Financeira

Harry Browne (www.harrybrowne.org), consultor financeiro já falecido, em seu Best Seller "Fail-Safe Investing", advoga o que ele chama de "As 16 regras de ouro da segurança financeira":

1°) Sua Carreira é a fonte de sua riqueza
2°) Não presuma que voce pode repor sua riqueza
Assim trate seu dinheiro como se nunca mais pudesse ganha-lo novamente
3°) Reconheça a diferença entre investir e especular
Quando voce investe, voce aceita os retornos que o mercado está pagando aos investidores em geral; quando voce especula voce tenta se sair melhor que os demais investidores, o que implica na crença que voce é mais esperto que a maioria dos outros investidores. Não há nada de errado em especular, contanto que seja com dinheiro que voce possa perder.
4°) Ninguem pode predizer o futuro
5°) Ninguem pode realizar market timing de maneira consistente e lucrativa
Ninguem pode garantir que voce vai estar sempre no lugar certo na hora certa
6°) Nenhum trading system vai funcionar tão bem no futuro como funcionou no passado
7°) Não use alavancagem
Quando alguem quebra, quase sempre é por que usou alavancagem (dinheiro emprestado de outros)
8°) Não deixe que ninguem tome decisões por voce
9°) Nunca invista em nada que voce não entenda
10°) Não dependa somente de um investimento, uma instituição ou de um pessoa para a sua segurança
11°) Crie um porfolio a prova de falhas para proteção
Para o dinheiro que é precioso para voce e que voce não pode perder, crie um portfolio simples, balanceado e diversificado, o que o Harry Browne chama de Portfolio Permanente. Este portfolio deve assegurar que sua riqueza sobreviva a qualquer evento futuro.
12°) Especule somente com dinheiro que voce pode perder
Se voce quer tentar bater o mercado, crie um segundo portfolio, separado, com o qual voce possa especular, mas tenha certeza que este portfolio contenha apenas dinheiro que voce possa perder; Harry Browne hama este portfolio de portfolio variável, pois pode ser investido em qualquer coisa.
13°) Mantenha alguns investimentos fora do pais que voce vive
14°) Tenha cuidado com qualquer esquema feito para evitar pagar impostos
15°) Reserve dinheiro em um orçamento para diversão pessoal
16°) Quando estiver na dúvida, é sempre melhor errar para o lado da segurança

As 16 regras de ouro da segurança financeira são as mesmas regras consagradas que usamos na vida e que aprendemos na infancia da nossa mãe: Reconheça que voce vive em um mundo incerto; tenha cuidado, seja precavido e não confie em estranhos. Se voce seguir estas regras pode ter certeza que suas finanças agradeceram.

No proximo post vamos falar então sobre o Portfolio permanente de Harry Browne, desenhado para sobreviver a qualquer evento economico futuro.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Estrategias na bolsa

É triste ver o conteudo muito baixo no geral dos sites que tratam sobre investimentos e bolsa de valores no Brasil, com algumas poucas exceções. Quem quer ler algo melhor precisa procurar em sites americanos. A grande maioria dos sites trata o assunto de investimentos como algo puramente especulativo. Só se ve artigos sobre analise tecnica, que é algo que comprovadamente não funciona.

Acredito que existem 4 estrategias muito boas e que tem um fundamento teorico sólido, com ampla comprovação:

- Investir no indice
- Montar uma carteira diversificada de ações baseado em value investing
- Montar uma carteira diversificada focada em dividendos
- Montar uma carteira diversificada focada em small caps
- Ou fazer um mix destas estrategias

Uma idéia interessante é ter um carteira principal baseada no indice, utilizando algum ETF e reservar uma pequena parte da carteira, talvez uns 20%, para ações individuais.

A grande vantagem de investir no indice é a simplicidade, a ampla diversificação, o baixo custo e o baixo turnover; voce pode manter a mesma carteira basicamente a vida toda; não necessita de muita monitoração; e tem um retorno muito bom, que muitas vezes bate as outras estrategias. O custo x beneficio é imbativel. Atualmente é isto que tenho feito.

Uma carteira de dividendos tambem é uma excelente alternativa, com menor volatilidade e retornos mais previsiveis, porem no Brasil muito concentrada no setor eletrico e por isto mesmo um pouco mais arriscada; e com provável retorno menor que o indice. Uma carteira focada em empresas de valor e em small caps podem ter um retorno excepcional, bem maior que o indice, mas com risco bem maior que investir no indice, e sem garantias que voce va se sair melhor. Voce pode se sair melhor ou pior. Só temos que lembrar que a maioria dos gestores profissionais não conseguem bater o indice. Apenas uma minoria é que consegue. E isto se dedicando 100% à bolsa, de maneira profissional e com ajuda de varios analistas e de todas as ferramentas que um grande fundo possui. Mas é possivel. Principalmente no curto prazo. No LP é muito dificil ganhar do indice, mas não impossivel. Mas é tão pouco comum que quem ganha vira lenda. É um Warren Buffet, um Peter Linch da vida. Ou seja se você for um gênio dos investimentos existe uma chance pequena de que você possa vencer o indice, mas não conte muito com isto. Provavelmente no longo prazo vai perder feio, principalmente depois de descontar os custos e impostos.

Para que deseja investir em ações individuais sugiro que invista em no minimo 20 ativos diferentes de diversos setores, usando analise fundamentalista; somente em ações ON, e de preferencia do Novo mercado. Procure selecionar as empresas lideres do seu setor e que tenham uma vantagem competitiva grande sobre os rivais. Menos que 20 ativos é um risco muito alto.

PS.: A melhor dica que posso dar para alguem que quer aprender sobre investimentos: Estude ingles