sábado, 27 de março de 2010

Carteira de Dividendos - Faz sentido??

Uma das estratégias comuns na bolsa de valores para aqueles que são mais conservadores e tem maior aversão ao risco é montar uma carteira focada em dividendos. Basicamente seleciona-se as empresas com melhor Dividend Yeld (DY%) e monta-se uma carteira com estas empresas com o foco em receber e reinvestir os dividendos. Geralmente este tipo de investidor afirma que não está preocupado com a valorização das ações mas apenas com os dividendos recebidos. A idéia é tentar transformar a bolsa em uma espécie de renda fixa. Quais são os vários erros deste tipo de estratégia e os riscos que o investidor corre (e muitas vezes não está ciente) ??

Antes de entrarmos no assunto em questão gostaria de ressaltar que acho importantissimo o papel dos dividendos e de se reinvestir os dividendos. Não é sobre isto que estamos falando. Estamos tratando especificamente da idéia de montar uma carteira focada exclusivamente em dividendos.

O primeiro erro desta estratégia é achar que existe alguma maneira de tornar a bolsa uma renda fixa. O nome já diz - renda variável. O investidor em dividendos faz uma suposição que aquela empresa vai continuar a pagar dividendos iguais ou maiores. Mas qual a garantia que existe uma empresa vai manter o pagamento de dividendos??  Nenhuma. A distribuição de dividendos depende de a empresa ter lucros e de sua necessidade de capital / reinvestimento. Assim se a empresa tiver prejuizos certamente não vai distribuir dividendos. Tambem se precisar de capital para reinvestimento ou expansão. Apesar de haverem empresas com uma certa tradição de pagar dividendos não existe nenhuma garantia disto. Além disto, se alguem investe em ações apenas com o objetivo de receber os dividendos que estão por volta de ou abaixo da selic ela vai estar muito melhor servida se investir apenas na renda fixa. O Brasil ainda possui uma taxa de juros relativamente alta e não faz sentido assumir riscos altos para ganhar praticamente a mesma coisa da renda fixa.

O segundo erro é achar que uma empresa que paga bons dividendos é mais segura. Estas empresas não são necessariamente mais seguras. Elas podem ter problemas e vir a falir do mesmo modo que outras. Veja o caso de alguns bancos americanos que sempre foram considerados bons pagadores de dividendos assim como alguns bancos no Brasil. Quando veio a crise de 2008 eles faliram e o investidor alem de não receber os dividendos viu o valor de suas ações virar pó.

Um terceiro problema que tabém está relacionado com a segurança é que uma carteira focada em dividendos é geralmente muito concentrada em poucas empresas e de poucos setores, principalmente no Brasil. Uma carteira de dividendos geralmente vai ter algumas empresas de energia, telefonia, saneamento, fumo, bebidas e bancos. A maioria é bem mais concentrada que isto. Como sabemos a diversificação é uma das chaves da segurança no investimento em ações, e ao concentrar muito a carteira o investidor se expõe a riscos desnecessários. Além disto o investidor deixa de investir em vários setores que são muitas vezes mais promissores.

O quarto erro é conceitual. É focar apenas nos dividendos. O lucro de uma ação vem de dois campos, da valorização da ação e da distribuição de dividendos. Quando voce foca apenas nos dividendos voce está desprezando o fator mais importante que é a valorização da ação. Tanto os dividendos quanto a valorização da ação se originam do mesmo fator - do lucro da empresa. Quando a empresa tem lucro ela pode ou reinvestir no seu negócio ou distriuir os dividendos. As empresas que distribuem muitos dividendos são na maioria das vezes empresas que não tem perspectiva de crescimento e que não necessitam de grandes investimentos nos negócios. Por outro lado as empresas que estão em forte crescimento necessitam de muito capital e optam por não distribuir dividendos, visto que é mais lucrativo reinvestir no própio negócio. Se a empresa tem um bom ROI, acima da renda fixa, então é mais vantajoso para o investidor que a empresa retenha os dividendos para reinvestir e ampliar o negócio. Isto vai se traduzir em lucros crescentes e forte valorização da ação. Ou seja o investidor deve focar no retorno total e não apenas nos dividendos. O resultado de se focar apenas nos dividendos é que existe uma chance muito grande de sua carteira de ações perder feio do IBOVESPA. E isto no longo prazo, devido aos juros compostos, pode se traduzir em uma diferença brutal.

Abs

quinta-feira, 4 de março de 2010

Retrospectiva Fevereiro / 2010

Segue o acompanhamento da nossa versão adptada do portfolio permanente.

O portfolio é composto por (target):

- 30% renda fixa: LFT 07/03/2012
- 30% Ações: BOVA11
- 30% Fundos imobiliários: uma carteira com 7 FII (EURO11, FFCI11, FPAB11, FLMA11, FMOF11, HCRI11B, PABY11)
- 10% Ouro

Estamos acompanhando um portfolio ficticio cujo valor inicial em 01/01/2010 era de R$ 100.000,00. Não consideramos as corretagens iniciais para montar o portfolio, mas a partir de agora em qualquer transação vamos registrar o preço da corretagem. Não vou considerar emolumentos para efeito de simplificação. Vou considerar como valor de corretagem os valores da corretora Spinelli (R$ 16,90 no mercado a vista e R$ 5,90 no fracionário; taxa de custódia zero; taxa do tesouro direto zero), que é a que eu uso. Existem mais caras e mais baratas, mas a Spinelli tem um preço bem razoável, principalmente no fracionário, além da taxa zero no TD. Também vou sempre descontar o IR. Por que isto é importante??? Primeiro por que estas taxas  incidem no mundo real, e se não considerarmos estes custos vamos estar propensos a fazer muitas operações e realocações, quando na verdade estas taxas comem uma boa parte do lucro das operações e punem os portfolios com alto turnover.


Atenção,
No post anterior da retrospectiva de janeiro houve um erro na rentabilidade do BOVA11 em janeiro que no post original saiu com -5,26%, mas que na verdade foi de -4,7%.
Corrigi o post anterior colocando as rentabilidades corretas, o que aumentou discretamente o rendimento do mês de janeiro. Assim, no fim do mês de janeiro nosso portfolio tinha:

- RF:       30.180,00
- Ações:  28.590,00
- FII:       30.936,00 + 208,51 disponíveis na conta da corretora
- Ouro:   10.645,00     
        
Total:   R$ 100.559,51



Vamos ao rendimento de fevereiro e anual:

- LFT: 0,63% / 1,23%
- BOVA11: 1,66% / - 3,11%
- FII: -2,32% + 454,68 de rendimentos / 0,72% de valorização anual + 2,21% de rendimentos - total de 2,93%
- Ouro: -1,19% / 5,18%

Assim no fim de fevereiro tinhamos (valores brutos e percentual):
- RF: 30.370,13 (30,11%)
- Ações: 29.064,59 (28,82%)
- FII: 30.218,28 (29,96%)
- Ouro: 10518,32 (10,43%)
- Caixa: 663,19 (0,65%)

Total: R$ 100.834,51

Rendimento do portfolio no mês: 275,00 (0,27%)
Rendimento do portfolio no ano: 834,51 (0,834%)

Como vimos o melhor investimento neste ano tem sido o ouro seguido pelos fundos imobiliários. Depois a renda fixa e o pior resultado tem sido da bolsa. O nosso portfolio balanceado tem tido um rendimento intermediário, abaixo do CDI e bem melhor que a bolsa.

Acredito que os valores disponíveis são baixos para se reinvestir ou rebalancear. Se fossemos investir o dinheiro em caixa a corretagem corresponderia a praticamente 1%. O portfolio ainda está bem próximo dos alvos planejados.