domingo, 24 de outubro de 2010

Experiência de 6 meses em Semi-aposentadoria

Estive seis meses em um tipo de semi-aposentadoria no período de janeiro a junho de 2010 e gostaria de compartilhar um pouco da experiência. Para quem não leu ainda acho interessante ler os artigos anteriores sobre o assunto na tag Aposentadoria.

Primeiro o que me permitiu esta semi-aposentadoria basicamente foi meu trabalho. Sou profissional liberal e posso escolher os dias e horas que desejo trabalhar. Além disto eu ganho razoavelmente bem e consigo viver bem com metade do meu salário. Geralmente o que fazia era investir a outra metade do meu salário em um portfolio diversificado. Mas depois comecei a perceber que em vez de investir a metade do meu salário poderia simplesmente trabalhar a metade do tempo e ter a metade da semana livre. Obviamente a maioria deseja trabalhar o maior número possível de horas para ganhar mais. Mas se voce tem um trabalho que lhe permite uma certa flexibilidade esta é uma opção interessante, e foi o que resolvi experimentar.

O motivo maior de partir para uma semi-aposentadoria também tem haver com meu trabalho. Meu trabalho é muito estressante. Ganha-se bem mas o preço a pagar é alto. O desgaste psicológico é grande. Além disto, digamos que como a maioria das pessoas eu não estou no trabalho dos meus sonhos. Na verdade eu quando criança gostava muito da área de exatas, de matemática e física, mas acabei seguindo carreira em outra área por influência dos meus pais. Eu era muito jovem e influenciável e revendo hoje, já mais maduro, acho que deveria ter seguido outra carreira, mesmo sendo algo que talvez ganhasse menos. Então basicamente hoje tenho três opções - Trabalhar muito em algo que não gosto e me aposentar o mais cedo possível, trabalhar o mínimo possível e desfrutar uma semi-aposentadoria ou tentar mudar de carreira.

A vantagem da semi-aposentadoria é que  como eu diminui a minha carga de trabalho pela metade, meu stress também diminuiu pela metade. Pude acordar tarde, passear com o cachorro, fazer mais exercícios, ler mais, passear, e fazer tudo que gosto. Por outro lado não sobrava mais nenhuma grana para investir e meus investimentos basicamente ficaram na dependencia dos seus rendimentos, ou seja, demoraria muito mais tempo para poder chegar em um valor suficiente para uma aposentadoria definitiva. De qualquer modo se voce trabalha pouco, qual o sentido em se aposentar?? O meu problema é que não gosto muito do que faço e meu sonho seria mudar de área. E apesar de aliviar muito o stress a semi-aposentadoria não me permitia mudar de área, por estar comprometido a metade da semana e sem muita folga no orçamento. De qualquer forma a semi-aposentadoria foi como uma férias que me permitiu "recarregar as baterias".

Resolvi então desde julho/2010 voltar a trabalhar em tempo integral para poder juntar mais uma grana que me permita depois fazer a transição para uma outra carreira. A idéia é conseguir juntar um portfolio que me renda um mínimo suficiente para que eu consiga me manter. Isto levanta uma questão interessante - Obviamente todos gostariam de se aposentar ganhando muito, mas qual seria o valor mínimo que voce conseguiria sobreviver?? Se usarmos uma taxa segura de retirada de 4% do portfolio voce vai precisar de um portfolio no valor de 300 vezes suas despesas mensais. Ou seja se voce consegue viver com R$ 1.000,00 por mês voce precisa de um portfolio de R$ 300.000,00; se voce precisa de um R$ 2.000,00 precisaria de um portfolio de R$ 600.000,00; Já se voce precisa de uma renda de R$ 10.000,00 voce precisa de um portfolio de R$ 3.000.000,00. Ou seja quanto menos voce gastar mais fácil é se aposentar. Obviamente como eu penso não em me aposentar mais em mudar de carreira o portfolio não precisa ser tão grande, só precisa me manter alguns anos até fazer a transição; neste caso, com um portfolio menor eu provavelmente teria que consumir uma parte do portfolio já que os rendimentos não seriam suficentes para bancar todas as despesas. 

Em um portfolio com estes objetivos é importante equilibrar a necessidade de crescimento com a preservação de capital além da geração de renda. E foi este um dos motivos para optar por um portfolio no estilo do portfolio permanente com a alocação de 30% em ações, 30% renda fixa e 30% fundos imobiliários. São muitas variáveis e cada dia vou fazendo pequenos ajustes nos planos.

15 comentários:

  1. Olá Inv.Fin!

    Desejo sucesso em sua busca por uma vida mais tranquila, fazendo o que você gosta e podendo se sustentar através da renda auferida pelos investimentos.

    A taxa segura de retirada, ou a taxa mínima de retirada (minimum withdraw rate) é um assunto complexo e muito discutido. Seria interessante se pudesse futuramente mostrar sua opinião sobre o tema.

    Os 4% são números do mercado americano, o que daria uma análise um pouco conservadora para o Brasil, mas bem sensata para aplicação.

    Grande Abraço e Sucesso!

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  2. É um dilema pra muita gente, fazer o que não gosta e ganhar dinheiro ou correr atrás daquilo que você realmente gosta mesmo ganhando pouco no início? Eu iria na segunda opção mas só se tivesse uma boa estabilidade financeira.

    Abraços e bons negócios,

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  3. Olá, InvFin!


    Muito legal o seu depoimento da semi-aposentadoria. É um dilema com o qual muitos se deparam hoje em dia.


    A notícia boa é que, dadas as condições mais maduras de nosso mercado financeiro, é perfeitamente possível construir patrimônio com o investimento em equities. Exatamente da forma que vc vem fazendo.



    Além disso, vc é bem jovem, e tem uma energia muito grande pra ser aproveitada!


    Concordo com o Henrique: embora devamos sempre ser conservadores em nossas expectativas de retornos, vc pode adotar como benchmark o rendimento da poupança, e considerar como taxa segura de retirada 6%, que é quanto se ganha uma aplicação livre de risco. Risco aqui entendida em seus devidos termos: rendimentos nominais.



    Acabei de ler o livro do Roger Gibson, sobre Asse allocation, que, aliás, foi uma ótima indicação do Henrique, e nesse livro se enfatiza a importância de ter uma carteira equilibrada. Inclusive, essa regra 30/30/30 consta no livro dele.



    Enfim, desejo sucesso e sorte no seu plano de carreira!



    É isso aí!
    Um grande abraço, e que Deus os abençoe!

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  4. Olá pessoal,

    Obrigada pelo apoio. Realmente no Brasil temos um rendimento garantido na poupança de pelo menos 6% ao ano nominal. Em um fundo DI ou CDB de mais ou menos 8% liquidos e em FII de 9% liquidos, isto tudo nominal. O problema é que no Brasil temos também uma inflação maior. Então acho que até se pode usar um rendimento maior em períodos curtos, sabendo que apesar de não estar consumindo o principal possivelmente estaremos perdendo poder de compra.

    Destas opções a que acho melhor são os fundos imobiliários em que é possível (apesar de não garantido) estarmos falando de rendimentos reais de 9% acima da inflação (em vista do fato do valor dos imóveis e consequentemente das cotas acompanhar a inflação). Mas como os rendimentos dos FII terem um certo risco (vide FMOF11) não da para apostar 100% do capital nisto, apesar da tentação ser grande. De qualquer forma penso em eventualmente aumentar a participação nos FIIs.

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  5. IF,
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    Estive pensando aqui com meus botões esta questão da semi-aposentadoria. Me parece que não faz muito sentido o termo independência financeira se o sujeito adotar esta estratégia, é isso mesmo??
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    Em uma estratégia "normal" de investimentos, o foco do investidor seria num 1o momento, tratando-se de ações, investir em empresas de cresimento, visando o crescimento do portfolio. E num 2o momento, fase de retirada do portfolio, seria investir em empresas boas pagadoras de dividendos, certo??
    .
    Com relação ao investidor que segue a estratégia de semi-aposentadoria, me parece que não faz muito sentido falar em 1o e 2o momento, e se assim for, seria mais interessante já começar a investir em empresas boas pagadoras de dividendos, e utilizar parte dos dividendos como complementação de renda, quando for necessário.
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    Gostaria de saber qual a sua opinião a respeito.
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    Abcs

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  6. Willy Fog,

    Eu acho que em qualquer carteira deve-se mesclar entre ações com bom potencial de crescimento, ações de valor, boas pagadoras de dividendos e small caps.

    Em uma semi-aposentadoria ou na aposentadoria é tentador focar em boas pagadoras de dividendos mas acho que é uma estratégia errada e perigosa (escrevi um post sobre isto - http://investimentosefinancas.blogspot.com/2010/03/carteira-de-dividendos-faz-sentido.html), basicamente por que os dividendos não são garantidos.

    Obviamente em uma aposentadoria ou semi-aposentadoria os dividendos são um importante complemento para a renda e até por isto deixei de investir em ETFs e passei a montar uma carteira individual.

    Então minha opnião é que a renda na aposentadoria seja principalmente da renda fixa e FIIs e dividendos como complemento; e a carteira de ações seja a parte do portfolio destinada a crecer o portfolio no LP.

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  7. Olá IF,
    Sucesso nesta sua empreitada.

    A visão do Willy é interessante, concordo com ela.
    O difícil é encontrar as empresas em crescimento e num crescimento sustentável no longo prazo.

    Como já falei gosto de empresas com vantagem competitiva sustentável, 85% da carteira e de "arriscar" em empresas de crescimento, 15%.

    Abraço!

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  8. Bacana ..penso parecido com isso... e num futuro ainda distante pretendo parcelar meus investimentos em imóveis comerciais , ações , renda fixa... diluindo um pouco o risco....

    o importante é aumentar o fluxo de caixa a cada mÊs...

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  9. Obrigado por compartilhar sua experiência de semi aposentadoria! Bem interessante!
    Vejo que buscamos muito a liberdade financeira e em paralelo a busca pelo prazer no que trabalha, de como ocupamos o nosso tempo.
    abs

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  10. Jonatas,
    Realmente é dificil achar empresas que tenham crescimento sustentavel no LP. Por isso a importancia de diversificar.

    Renda Passiva,
    É bem dificil aumentar o fluxo de caixa todo mês. Isto se traduz em montar uma carteira voltada para renda

    Investidor Defensivo
    Acho que quando se tem liberdade financeira o trabalho deixa de ser uma coisa enfadonha pois podemos nos dedicar a concretizar nossos sonhos.

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  11. Pessoal,

    Estou procurando uma planilha para controle de investimentos, alguém poderia me enviar uma?

    brunovcn@yahoo.com.br

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  12. Saudações companheiro de blog,

    Convido-lhe para a comunidade Blogs Financeiros.
    "Integração dos blogs (e seus visitantes) que tenham como tema: economia, educação financeira, mercado financeiro, investimentos, dinheiro e outros assuntos similares."

    Caso tenha interesse acesse: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=100916895

    Obrigado.

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  13. Olá "IF" !

    Muito interesssante esse Post seu pois estamos em situação parecida ! Igual só que diferente, sabe como éh ?

    Então financeiramente já cheguei láh...

    Estratégia foi poupança mensal do salário, vários saques de FGTS , compra e venda subsequente de imóvel. Ações, Fundos de Ações, Fundos MultiMercados estrelados, etc. E Sempre investindo sobras de salário.

    Andando sempre de fusquinha, nada de comprar carrão ! rs

    E claro um pouco de sorte de pegar a fase maravilhosa de 2003 (juro alto, bolsa alta).

    Agora, no "topo" da montanha, a situação é a seguinte :

    - Tô "doido" pra pular fora do trabalho, que já não faz mais sentido pra mim...

    - Mesmo tendo chego lá eu SEI QUE É ARRISCADO abandonar o trabalho. Veja inflação por exemplo...

    - Gostaria eu mesmo de gerir meu portfólio mas não tenho conhecimento técnico suficiente para tal. Adoro ler, gosto do mundo financeiro, adoro liquidez, mas não me sinto capacitado ainda pra gerir sozinho o portfolio.

    - Continua alta alocação em fundos de gestores independentes.

    - Tô vendo FIIs .. por isso acabei "enroscando" no teu blog..

    - Quanto ao tal dos 4 % e/ou "Withdraw Rate" no Jargão, que o HC comentou, eu penso DIFERENTE : penso que se eu ganho "x" então meus rendimentos mensais TERÃO QUE SER "2X". O plano é CONTINUAR INVESTINDO "AD ETERNUM".

    - Por isso conhecimento técnico é muito importante. Pra poder aproveitar esse rendimento mensal excedente e continuar crescendo o portfolio.

    - Gosto muito da idéia do INI ou mesmo da recompra mensal de FIIs. Sou muito favorável a isso.

    - Mas a conclusão (falei D+) é que é melhor continuar trabalhando e poupando atéh poder sair no nível de "2x" pra daí sim ficar confortável e poder de fato se aposentar.

    É isso !

    Suce$$o nos investimentos a você e a todos os internautas do blog !

    Abç !

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  14. Olá Milho_nário,

    Até quando trabalhar; que valor é adequado é algo muito pessoal; depende dos seus planos; do que quer da vida, etc. Eu não pretendo parar de trabalhar, mas sim mudar de área, para algo que eu me identifique mais.

    Sucesso nos seus planos!

    Abs

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  15. Olá Investimentos e Finanças; Curiosamente e coincidentemente, temos um quadro estritamente parecido. Tenho uma profissão que me garante uma renda que vivo com a metade e invisto a outra metade. No início de minha carreira, estava pensando em me "entupir" de trabalho e juntar um valor massa e me aposentar logo. Porém, percebi que estava me sobrecarregando muito sem curtir a vida. Daí resolvi chegar a um meio termo. Meu trabalho me possibilita trabalhar 3 dias na semana. Poderia duplicar minha renda se trabalhasse a semana inteira, mas não teria qualidade de vida.
    Graças à Deus tenho a possibilidade de investir 50% de minha renda vivendo frugalmente (sem exageros ou apertos), mas não tenho paciência para rentabilidades de 6 a 9% ao ano. Sou "novo" e resolvi para minha vida colocar mais risco. Fiz um colchão de segurança, e após isso, resolvi investir no empreendendorismo. Sempre achei o máximo ser empreendedor, e resolvi estudar para iniciar no ramo. Tomei muito "coco" na cabeça, mas foi ótimo pois estou a cada dia aprendendo mais. Sendo dono do meu próprio negócio tenho várias vantagens: Faço o que gosto, tenho rentabilidade bem acima dos clássicos 6-12% a.a., e, se tudo der errado, tenho meu emprego.
    Comecei minha educação financeira lendo todos os livros de G. Cerbasi, mas depois de conhecer Kyosaki achei muito mais atrativo. Resolvi achar um meio termo entre os dois (permaneço no meu trabalho mas invisto no meu próprio negócio- o quadrante "D"). Com isso, estou aumentando meu capital muito mais rapidamente (claro que com mais riscos) mas se tiver erros, tenho meu colchão de segurança e meu emprego para um dia ir para o quadrante "I".
    Eu acho que uma "meia aposentadoria" não é interessante no meu ver. Estaria ficando acomodado, poderia achar bom, mas quando chegar mais para frente eu quero ficar livre para trabalhar quando e como quiser e não depender do meu emprego (mesmo que tenha de trabalhar apenas 3 dias na semana ou até menos). Na minha vida, fiz um período de academia de musculação onde aprendi um lema dos "marombeiros" que foi a única coisa que me levo comigo hoje - "Sem dor não há ganho". E hoje, eu tenho um estresse extra tendo de trabalhar e tomar conta de meus dois negócios (sim, estou cuidando de dois empreendimentos meus), mas (mesmo meus parentes rindo quando digo que terei minha independencia em 5 anos) vejo que estou indo bem.

    Gostei de saber que tem alguem numa situação semelhante a minha. Pelo que você descreve, acredito que trabalhamos na mesma área (acho que por motivos de discrição você não revelou, mas deve ser a mesma minha) basta dizer que é uma das áreas onde ganha-se bem mas para viver muuuuito mal, o que leva a nossa classe a viver de aparência, vaidades, superficialidade e viciados e dependentes do trabalho para manter um padrão de vida que impressione os vizinhos.

    Espero trocarmos mais experiências e aprender mais afim de chegar na tão sonhada "e breve" independencia financeira rsrsrs

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