quinta-feira, 29 de julho de 2010

Reflexões sobre a inflação, ouro e papel moeda

No último post destacamos alguns conceitos muito importantes:

1° ) A inflação é resultado da expansão da base monetária sem um correspondente aumento da economia.

2°) O aumento dos preços dos produtos pode ocorrer por outros motivos não relacionados com a inflação como alterações na lei da oferta e procura; e pela melhora da qualidade dos produtos e serviços.

Assim chegamos a conclusão no último post que é difícil ao analisar exclusivamente os índices de preço determinar o quanto deste aumento dos preços é decorrente de inflação e o quanto decorre de outros fatores como o aumento na qualidade dos produtos e serviços, ou de fatores ligados a lei da oferta e demanda. Assim é necessário sempre avaliar fatores qualitativos em conjunto com a análise bruta e "simples" dos índices de preço.

Agora gostaria de analisar um outro lado da moeda. Ao analisarmos o aumento da base monetária com o passar do tempo temos a impressão que houve uma grande inflação em um determinado período, pois com o aumento da quantidade de dinheiro disponível haveria uma diminuição no valor do dinheiro e "inflação". Por que este raciocínio é simplista e errôneo? Por que tem havido constantemente com o passar do tempo uma necessidade de expansão da base monetária. Ou seja, uma parte da expansão monetária é necessária. Por que?? Basicamente devido ao crescimento populacional e a expansão da economia. A população cresce. Mais pessoas trabalham e geram riquezas que antes não existiam. Onde antes haviam desertos se constroem cidades. O homem explora a terra e descobre riquezas, ouro, pedras preciosas, petroleo. Inventam-se novos produtos. Com a bioteconologia, onde em um campo antes se produzia uma quantidade X de alimentos hoje se produz no mesmo local 2 vezes mais. E como o dinheiro é um meio de troca o aumento do número de pessoas, produtos e serviços precisa ser acompanhado por uma expansão da base monetária, ou as pessoas teriam que começar a praticar escambo por falta de papel moeda.

É também por este motivo que o uso do ouro como moeda foi abandonado com o tempo, pois o ouro é raro e sua exploração é demorada e inelástica, enquanto que o crescimento populacional e da economia na história humana tem sido muito forte, e as pessoas preferiram reservar o ouro, que é um produto "raro" no mundo, para a produção de jóias do que para usar como moeda. Ou seja, é impossível hoje que se volte ao tempo em que se usava exclusivamente ouro como moeda corrente. Na verdade devido a raridade do ouro nunca se usou exclusivamente ouro como moeda, mas se usava vários outros metais mais abundantes como prata e cobre. Ou seja não existe ouro suficiente para servir como meio de troca entre as pessoas hoje para o enorme número de produtos e serviços que existem, então vamos ter que sempre usar algum outro tipo de moeda, seja papel moeda, seja digital (cartão de credito / débito / transferencias). Se em um mundo bizarro as moedas perdessem valor e se começasse a usar ouro simplesmente as pessoas inventariam uma outra moeda imediatamente ou teriam que fazer escambo.

Concluimos então que não da para analisar a inflação em um período ao analisar isoladamente apenas a expansão da base monetária. Precisamos analisar a expansão da base monetária em conjunto com a expansão da economia. Assim a inflação não é também apenas expansão da base monetária. Pode haver expansão da base monetária sem inflação. Voltando a nossa definição, o fenômeno da inflação seria uma expansão da base monetária sem uma correspondente expansão da economia. Como a expansão da economia é algo dificil de prever e só analisamos melhor ao olhar para o passado, a expansão da base monetária pelos bancos centrais é algo muito subjetivo e eventualmente os governos podem "errar a mão", intencionalmente ou não, e expandir demais a base monetária, acima do crescimento real da economia, gerando inflação.

6 comentários:

  1. Boa noite IF.

    Muito interessante este ''destrinchar'' do conceito da inflação.

    Tive algumas dúvidas na leitura.

    A expansão monetária, no Brasil, ocorre de quanto em quanto tempo? Na verdade a pergunta é: existe um prazo específico para o governo decidir ''expandir'' a base monetária?

    Não entendi um ponto. ''os governos podem "errar a mão", intencionalmente ou não''. Pq os BCs errariam a ''mão'' intencionalmente?

    Pelo que entendi existem ''dois blocos'' para o aumento da inflação. 1 - Mercado. 2 - Governo. Se o 2 expande a base orçamentária sem ''fundamento'' mercadológico, ou seja, expansão conjunta com o mercado gera a desvalorização da moeda.

    Então realmente não compreendo como isso pode ser vantajoso ao governo.

    Abraços,
    Léo.

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  2. Leo,

    A expansão monetária ocorre constantemente. O banco central divulga dados mensais. Não sei se existe algum prazo específico.

    Errar a mão intencionalmente seria fabricar moeda para cubrir deficit público; isto ocorre se o governo tem muitos gastos e uma baixa arrecadação de impostos e/ou dificuldade em captar recursos no mercado interno e externo, por falta de credibilidade ou condições ruins de mercado.

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  3. IF,

    excelente artigo, como o anterior.

    Apenas acrescento que o déficit público pode aumentar drasticamente se o governo, apesar de responsável, resolve socializar as dívidas privadas.

    Vide o caso da Irlanda que viu anos e anos de austeridade irem para o ralo em questão de dias ao encampar as dívidas dos bancos privados daquele país, a fim de evitar um colapso.

    Ao se fazer isso, cria-se também o problema do "moral hazard", sobre o qual o Roubini fala muito bem nesse último livro dele que está nas livrarias.

    Nos EUA ainda tem o agravante de o FED ser uma banco privado e os sócios (grandes bancos privados) LUCRAREM com a impressão de moeda, ao fazer com que o Tesouro dos EUA tenha que pagar juros ao FED para que este, em uma operação triangular com grandes bancos privados (possivelmente os mesmos que são sócios do FED), compre bônus do Tesouro, sustentando assim o crescente déficit orçamentário (no que se inclui as empreitadas bélicas atuais).

    Abs,

    Deuteron

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  4. "FED ser uma banco privado" > isso é o que dá não revisar o texto antes de postar. :-)

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  5. Mais um excelente texto, Investimentos!



    O preço dos carros é um exemplo típico que explica bem esses fenômenos abordados no artigo. Há uns 15 anos atrás, um carro popular custava R$ 8 mil. Com o aumento da população, mais gente quer carro. E os custos da produção, aliados à melhora da tecnologia, vão colaborando também para empurrar o preço para cima. Hoje, carros populares já custam na faixa de R$ 20 a R$ 30 mil.



    É isso aí!
    Um grande abraço, e que Deus os abençoe!

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  6. Olá IF,

    Tem apenas um ponto no seu argumento que eu acho apressado. Vc diz e eu concordo que para ter estabilidade de preços no longo prazo, a expansão do estoque monetário deve ser igual ao da economia real.
    Mas vc não argumentou o seguinte: Qual o problema em se ter estoque fixo e deflação nos preços?

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