sábado, 23 de julho de 2011

A Grécia é Aqui !

O Friedman está falando da Grécia, mas parece estar falando do Brasil! Praticamente todas as mazelas da Grécia se repetem no Brasil, e talvez até pior!Obviamente o Brasil tem uma economia bem mais pujante que a Grécia, mas infelizmente assim como na Grécia não há incentivo ao empreendedorismo, a educação é péssima, a burocracia é enorme, carga tributária alta, gastos públicos enormes e mal feitos, muita corrupção, péssimos políticos, apenas atrás de cargos e de desviar a verba pública, cultura paternalista e "do jeitinho".  Se continuar deste jeito o Brasil vai continuar sempre como a "o país do futuro", de um futuro que nunca chega.

Deem uma lida no texto do Friedman!

Abs

22/07/2011 - 00h01


Os gregos podem se tornar alemães?

Thomas L. Friedman

Em Atenas (Grécia)



Katerina Sokou, 37 anos, uma jornalista financeira grega do jornal “Kathimerini”, me contou esta história: um grupo de membros alemães do Parlamento bávaro visitou Atenas logo após o estouro da crise econômica aqui e se encontrou com alguns políticos, acadêmicos, jornalistas e advogados gregos em uma taverna para avaliar a economia grega. Sokou disse que sua impressão era de que os alemães estavam tentando descobrir se deveriam emprestar dinheiro para o resgate da Grécia. Era como se fosse um país entrevistando outro para aprovar um empréstimo.



“Eles não estavam aqui como turistas; nós estávamos passando dados sobre quantas horas trabalhávamos”, lembrou Sokou. “A sensação era de que tínhamos que persuadi-los a respeito de nossos valores.”



A observação de Sokou me lembrou algo que me foi dito por Dov Seidman, autor do livro “Como – Por que o Como Fazer Algo Significa Tudo” e presidente-executivo da LRN, que ajuda empresas a desenvolverem culturas de negócios éticas. A globalização dos mercados e povos se intensificou a um novo grau nos últimos cinco anos, com a ascensão das redes sociais, Skype, derivativos, conexão rápida sem fio, telefones inteligentes baratos e computação em nuvem.



“Quando o mundo está amarrado junto tão firmemente”, argumentou Seidman, “os valores e comportamentos de todos importam mais do que nunca, porque o impacto deles atinge muito mais pessoas do que nunca. (...) Nós passamos de conectados a interconectados e para eticamente interdependentes”.



À medida que fica mais difícil se proteger do comportamento irresponsável do próximo, acrescentou Seidman, tanto ele quanto você precisa se comportar mais responsavelmente – ou ambos sofrerão as consequências, quer você tenha feito algo errado ou não. Isso é duplamente verdadeiro quando dois países diferentes compartilham a mesma moeda, mas não o mesmo governo.



É por isso que esta história não se trata apenas de taxas de juros, mas sim de valores. Os alemães agora estão dizendo aos gregos: “Nós emprestaremos mais dinheiro, desde que passem a se comportar como alemães, no modo como poupam, no número de horas trabalhadas por semana, na duração das férias e quão consistentemente pagam seus impostos”.



A propósito, esses dois países são muito diferentes culturalmente. Eles lembram um casal sobre o qual você pergunta após o divórcio: “Como aqueles dois pensavam que poderiam se casar?”



A Alemanha é a epítome do país que enriqueceu produzindo coisas. A Grécia, após seu ingresso na União Europeia em 1981, se transformou em outro petro-Estado do Oriente Médio –só que em vez de um poço de petróleo, ela tinha Bruxelas, da qual Atenas extraía constantemente subsídios, ajuda e euros a taxas baixas de juros.



Os recursos naturais criam corrupção, à medida que grupos disputam quem controla a fonte. Isso é exatamente o que aconteceu na Grécia quando teve acesso a imensos subsídios e empréstimos. O empreendedorismo natural dos gregos foi canalizado na direção errada – para uma competição por fundos e contratos do governo.



Certamente nem tudo foi desperdiçado. A Grécia passou por um momento de modernização real nos anos 90. Mas após 2002, ela levantou seu pé, achando que tinha chegado, e muito dinheiro da União Europeia voltou a financiar um sistema corrupto e patrimonial, onde políticos distribuíam empregos públicos e projetos para localidades em troca de votos. Isso reforçou um imenso Estado de bem-estar social, onde os jovens sonhavam com um confortável emprego público e todos, de taxistas e caminhoneiros a farmacêuticos e advogados, eram autorizados a erguer barreiras à entrada de outros, o que inflacionava os preços artificialmente.



O ingresso na União Europeia “foi uma grande oportunidade para desenvolvimento e nós a desperdiçamos”, explicou Dimitris Bourantas, um professor de administração da Universidade de Atenas. “Nós também não aproveitamos os mercados dos (antigos) países socialistas em torno da Grécia. E também não aproveitamos o crescimento da economia global. Nós perdemos tudo isso porque o sistema político estava concentrado demais no crescimento da administração pública –e não no estímulo ao empreendedorismo, concorrência, estratégia industrial ou em vantagens competitivas. Nós criamos um Estado com grandes ineficiências, corrupção e uma burocracia muito grande. Nós éramos o último país soviético na Europa.”



Esse é o motivo para os gregos, ao se mudarem para os Estados Unidos, “explorarem seu talento e empreendedorismo” de formas que permitem que prosperem no comércio, ele acrescentou. Mas aqui na Grécia, o sistema encoraja o oposto. Os investidores aqui dizem que a burocracia envolvida na abertura de uma empresa é insuportável. É loucura; a Grécia é o único país no mundo onde os gregos não se comportam como gregos. O Estado de bem-estar social, financiado pelo euro, degenerou tudo.



Com o declínio de Beirute e Dubai, Atenas poderia ter se tornado o centro de serviços do Leste do Mediterrâneo. Em vez disso, Chipre e Istambul assumiram esse papel. A Grécia não pode desperdiçar esta crise. Apesar da implantação de algumas reformas no ano passado, o primeiro-ministro George Papandreou me disse: “O que é mais frustrante é a resistência no sistema. Como promover uma mudança de cultura?”



Será necessária uma revolução cultural. E isso só pode acontecer se os dois maiores partidos da Grécia se unirem, derem as mãos e forçarem coletivamente uma mudança radical na cultura de governo de cima para baixo. Sem isso, a Grécia nunca conseguirá pagar seus empréstimos.

Tradução: George El Khouri Andolfato

5 comentários:

  1. O Arnaldo Jabour na sexta passada escreveu justamente sobre este texto e assunto. É assustadora a semelhança do Brasil e da Grécia nos piores itens. Triste Brasil.

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  2. Onde é que eu assino? Nem com o erro dos outros conseguimos aprender. Brasil precisa de reformas urgentes e não dá pra enrolar mais...

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  3. Inv e Fin,

    A dívida do Brasil proporcionalmente é muito inferior à da Grécia. Além disso, aqui temos petróleo, minério e muita terra. Nao que o Brasil vá virar alguma potencia, mas pra virar outra grécia acho improvável, e o mercado concorda comigo. (http://www.bloomberg.com/apps/quote?ticker=CBRZ1U5:IND)

    Abraços,

    VR.

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  4. VR,

    Não estou comparando a economia brasileira nem o mercado brasileiro com a Grecia, mas a politica e ideologia da população e dos governantes; é a velha mentalidade de "tirar proveito" do estado, do paternalismo, da ideologia com viés socialista, da corrupção, entre vários problemas culturais que se refletem indiretamente na economia.

    Abs

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  5. Como nosso país mudou: tentei contratar uma babá para meus filhos. Foi avisada que ela além das duas crianças iria arrumar os quartos delas e cuidar de suas roupas. A resposta: "na minha casa, eu tenho uma empregada que lava minhas roupas e cuida dos quartos, eu só olho crianças". Ele iria trabalhar meio período, livre nos Domingos e Sábados após 12:00h.

    A mesma recebe BOLSA FAMÍLIA pois é "DESEMPREGADA", entre outras benesses do governo PETRALHA e NÃO QUER TER A CARTEIRA ASSINADA PARA NÃO PERDER A ESMOLA QUE RECEBE TODO MÊS.

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